sexta-feira, 29 de maio de 2009

one thousand cigarretes

Nada contra o politicamente correto. Em fato, questiono sobre a existência do certo, mas mesmo assim não tenho nada contra ele. Quero acreditar, mas não vejo sua existência em nada, certo e errado são uma questão de perspectiva, juízo de valor, moral, fé, universalização das ações, sei lá, coloque como você quiser.

Errado e certo, eu julgo do meu jeito. Ok. Vício é ruim, é errado, se opõe à virtude, etc e tal.
Vícios? Tenho mais do que virtudes, isso com certeza. Sou uma pessoa ruim?Depende do seu ponto de vista. Mas em geral, sou uma pessoa no mínimo desagradável.

Exercendo um dos meus vícios, o fumo, estava esperando a fila do café se acabar. Quando a fila acaba, arremesso impiedosamente o resto do cigarro no chão. Procurando o cartão do café em minha carteira, sou surpreendido por uma pequena multidão que me observava, enquanto uma figura esbravejava algo que eu não conseguia ouvir por causa do fone de ouvido. Observando seus lábios, percebi que ela dizia algo como "cigarro e chão". Olhei a pobre bituca jogada no chão, usada e depois descartada, pobrezinha. Totalmente abusada, estuprada pela boca e pulmões de um homem terrível, queimada na volúpia do desejo egoísta.

Peguei a pobre alienígena, mostrei a todos os espectadores, e a devolvi ao seu mundo: o lixo. Mas não o fiz antes de ouvir "quer se matar, que se mate sozinho, mas não mate os outros, nem estrague o nosso mundo" ou algo assim. E também não perdi a oportunidade de dizer, "pronto, temos um mundo melhor".

Ok. Eu também acho que fui - e ainda sou - um babaca. Mas é que acho tão irritante, a mania que as pessoas corretas têm, de lembrar as outras pessoas das coisas erradas que elas fazem. Eu não digo em momento algum que tenho o direito de sujar o chão, não. É muito nojento mesmo. O cigarro é um vício sujo. Vício combina com sujeira, com pecado, né?
Sabe aquela parada de nos redimir? Fazermos a nossa parte e tal... aquela história do beija-flor, que levava a gota d´água para apagar o incêndio, e por aí vai...

Sabe o que eu penso? Na nossa ânsia de salvar o mundo, fazer o certo, ser bom, ser justo, ser cristo, achamos que somos tão unidos com tudo, com todos, tão desprendidos de nós mesmos, que não percebemos o quão egoísta é ser bom, para tudo e para todos. No final da contas, fazemos o "bem" para nos sentirmos bem. Apenas para podermos ver o caos, encher o peito e dizer, "fiz minha parte, se não deu certo é porque você não está fazendo".
Ok, não estou fazendo mesmo. Mas porra, por isso devo ser execrado, massacrado? Os politicamente corretos tem esse direito? Me expulsar do projeto de paraíso deles? De rasgarem minha passagem na astronave que vai levá-los para longe daqui?

Só para acabar, não tenho nada contra o politicamente correto. Mude o mundo, faça a diferença, espero que dê certo, porque está tudo errado mesmo. Mas por favor, não tente arrancar o cigarro da minha boca. Sua mãe nunca te falou para não brincar com drogas, muito menos com viciados? Não derrube minha coca cola, só porque você não bebe o líquido negro do capitalismo. Eu nunca vou enfiar a mão no seu prato e arrancar o seu bife, só porque eu não curto carne.
Sabe, prefiro o paraíso pelo clima, o inferno pela companhia. Mas entre clima e companhia, fico com a companhia.

Ah, e antes que eu me esqueça, o maldito beija-flor conseguiu motivar os outros animais, e juntos eles apagaram o incêndio. Hoje o beija-flor faz palestras sobre motivação de grupos e liderança para executivos, já escreveu 3 livros, e fizeram um especial sobre ele no globo repórter.

sábado, 9 de maio de 2009

Eu queria gomets de laranja

Sempre achei este cruzamento meio dramático, irônico, exemplar. Quando estou indo para casa, do meu lado direito tenho a prefeitura, um prédio grande, e agora que foi reformado, até simpático; Do meu lado esquerdo, uma igreja... não sei a santidade que guarda seu nome e suas portas; Em frente, uma frondosa árvore, que protege com seus galhos carcomidos a estátua do soldado. Estátua já esbranquiçada pela ação do tempo... ok, não é ação do tempo coisa nenhuma... é merda de passarinho mesmo.

No sinal do cruzamento sempre há pedintes, sempre há crianças vendendo docinhos. Não raro compro um. Compro não porque eu gosto dos docinhos, não, nem gosto muito. Das jujubas eu gosto da laranja, mas sempre vem tão pouco. Compro por uma pontinha de culpa que me cutuca.

Antes eu pedia para a criança ficar com o doce, apenas lhe dava o dinheiro, tipo esmola mesmo. Depois passei a achar essa minha atitude meio babaca, e consumido pela culpa, passei a ficar com os doces. Como a culpa ainda me afligia, por desperdiçar os doces, passei a comê-los. Muitas vezes ali, na frente da criança, para tentar mostrar que eu comprava não para ajudá-la, mas porque eu queria os doces.

Simbólico o cruzamento porque fica do lado da igreja. E quando as beatas descem, já tendo sido absolvidas de seus pecados, ao devorar a bolachinha de água com farinha, eu sou “absolvido” dos meus, devorando hóstias de jujuba de laranja. Ninguém é absolvido. Ninguém se livra assim de seus pecados. A menina ainda vende docinhos no sinal, e o camarada ainda está pendurado com cara de triste.

Irônico porque fica do lado da prefeitura. Um prédio simpático, com um slogan bem grande “cidade do amor e da liberdade”. Ok, liberdade está nos direitos humanos, amor não, é muito subjetivo. E subjetividade a gente deixa de lado. Ah, liberdade hoje em dia é meio subjetiva também. Por via das dúvidas, é melhor deixá-la de lado também.

Exemplar é a estátua do soldado. Bombardeada com caquinhas brancas. Esse sim está de acordo com o sinaleiro.

E o mundo cão ainda late, correndo atrás da roda que leva para lugar nenhum. Viajei? Só espero que não tenha sido para o México.

quinta-feira, 7 de maio de 2009