sábado, 28 de novembro de 2009

Resta um

"Mas é de cara assim que elas gostam mesmo. Cara que pisa, que sacaneia."
Porra, como eu usei essa resposta pronta. Principalmente quando eu via alguma menina muito bonita se fodendo na mão de algum panaca. Ou senão, quando eu via esse mesmo panaca sacaneando a namorada super pop, super bonita, namorada esta que nunca daria moral para um nerd underground, inseguro e com caráter demasiado rígido para uma vida saudável em sociedade.
Essa resposta é só o recurso do ressentido, uma forma de justificar sua dor solitária diante de um mundo que lhe prova à todo momento que "bonzinho só se fode".
Em uma ocasião, em um bar, enquanto conversava com uma recém conhecida, muito bonita por sinal, e que se lamuriava por relacionamentos mal sucedidos, um amigo comum nosso disse algo assim:
"Sabe, funciona da seguinte forma: mulheres bonitas como você insistem em tentar ficar juntas de idiotas. Vocês choram, se fodem, se acabam, mas invariavelmente voltam para eles. Daí, quando eles se cansam, quando eles não quiserem mais vocês, seja porque vocês não têm aquela beleza que já tiveram, ou seja porque já tem uma "fama" questionável, eles largam vocês. Deixam de canto. E o que sobra para vocês? Se arranjar com alguém que sempre quis vocês, mas vocês achavam que era resto. E agora que vocês são resto, vocês querem eles."
Eu ri muito na hora. Estava com algumas cervejas na cabeça então não parei para pensar em tudo o que isso queria dizer exatamente. Ah, esse meu amigo, que é muito gente boa por sinal, ficou com a menina bonita nessa noite.
Tá, tá e o que raios eu quero dizer com isso tudo?
Por mais cruel que pareça, há um pouco de verdade no que meu amigo disse. E por mais que não queiramos acreditar, é assim que funciona. Só valorizamos quando perdemos, só entedemos o prazer de um sorriso sincero quando já choramos toda a carga de lágrimas que tínhamos. Só aprendemos a olhar para dentro de nós mesmos, dos outros, quando as pancadas da vida nos deixam sem armadura, nus. Só aprendemos que a beleza não é só a casca, é o conjunto que o tempo não vai levar, que o espelho nunca vai mostrar, é o que você, e só você vê, quando está com aquela pessoa. Só aprendemos isso depois de ver tantas coisas belas exalarem maldade e indiferença.
E isso não é ruim. Porque só valorizamos o doce depois de ter provado do amargo...
E no fim... sempre resta um... e ele não está procurando por alguém? Será eu, ou você?

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

E tenho dito.

Eu sempre quis saber. Saber como é ter o poder de escolher ao invés de ser escolhido. Sentir o prazer de dizer "não", a potência de ser um deus sobre alguém. Isso deve ser legal.
O papo da grama entra aqui também. A porra do jardim dos outros sempre tá mais batuta que o seu. E olha que você até se esforça para manter o seu legal, mas por que raios a grama fica tão sem vida? Por que essas merdas de falha no gramado?
Enfim, por aí vai. Sei que todo mundo tem problemas. Com certeza bem maiores do que os meus.
Mas quer saber? Assim como para todo mundo, para mim tanto faz os seus problemas. Por que no fim, são SEUS problemas, não meus. E os meus problemas são só meus.
Por que é assim que tem de ser.
E fecha a porra da porta quando sair.

domingo, 1 de novembro de 2009

Rain of tears

O céu de poços sempre está pronto para chover. Mesmo que o sol brilhe forte lá em cima, mais forte do que o normal para a cidade, ainda assim as nuvens escuras ficam sobre as montanhas, esperando para se derramar.

Parecem olhos de velhinho: Aqueles olhos fundos, lacrimejantes. Sempre prontos para chorar. Apesar do sorriso automático, sorriso de resina, artificial, a chuva dos olhos sempre está pronta para se precipitar.

A cidade me pareceu triste. Muita gente correndo, se esbarrando. Muitos carros parando nos cruzamentos, pessoas brigando, barulho, barulho, calor. Não costumava ser assim. Costumava ter velhinhos sentados nos bancos, dando de comer aos pombos. O coreto com chorinho embalando casais de décadas.

Eu quase não vi velhinhos hoje. Só vi os seus olhos quando olhei as nuvens chorosas.

Está chovendo. O cheiro da chuva é inconfundível.