De frente para o hotel tem uma construção antiga, bem velha. O tempo castigou a alvenaria que, desbotada, ostenta sua idade sem muito orgulho. Um bar fica aberto em horários não muito regulares, entoando músicas de amores fracassados ou hits do momento, embalando casais formados por poucos reais, casais que deixarão de existir em minutos.
Sobre o bar uma série de janelas cobertas por cortinas coloridas escondem lares, famílias.
Em uma delas, a de cortina vermelha, mora um cara. Ele trabalha no calçadão, em uma loja de bijuterias, tem duas crianças, um casal, entre 4 e 7 anos talvez. Eles têm um gato amarelo que passeia pela janela de vez em quando. Vez ou outra uma brasa arde na janela, arremessando cinzas no ar. Vez ou outra ele grita com as crianças. Vez ou outra ele aparece com cara de cansado na janela.
Ele parece um fantasma, um recorte de papel voando ao redor de todo mundo. Alguém nota sua existência? Na perenidade da vida, alguém nota alguém?
No nosso egoísmo rotineiro não percebemos o outro. Sequer nos importamos se a pessoa que passa por nós todo dia, no mesmo horário, é alguém de carne e osso. Tomamos café da manhã no mesmo horário, almoçamos no mesmo lugar, tomamos o mesmo elevador... um teatro mal assombrado.
Nos julgamos de carne e osso, mas nós somos fantasmas uns dos outros. Recortes de papel voando para lugar algum, que só se percebem quando se tocam.
Olhe ao seu lado. O que você vê?
Ps. Eu não sou psicopata. Eu apenas gosto de observar. E tenho imaginação fértil. Apenas isso. Ok?
Ps2. É sério, eu não sou psico.