segunda-feira, 27 de julho de 2009

One Thousand cigarretes IV

Ela se preocupa porque ela me ama.
"Vai, por favor, apaga esse cigarro."
Ah, até a carinha dela de brava é linda. O jeito que ela aponta para o cigarro, a testa franzida...
E ela se preocupa com a saúde minha porque quer que eu viva muito tempo ao seu lado... como sou egoísta! Mas meu bem, troquei minhas virtudes pelos meus vícios há tanto tempo... será que seu amor pode me convencer de retornar minhas virtudes? Ah, que sentimento sublime que você tem por mim... mereço tanto?
"É a última vez moço. Vou chamar o gerente. Não pode fumar aqui na lanchonete."
Ah, ela está se fazendo de difícil para eu me apaixonar. Jogos do coração.
"Jorge, esse moço não quer apagar o cigarro."
Hum, chama outro homem para me fazer ciúmes, hein? Uma jogadora. Ah, eu faço o que vc me pede, mas só porque não quero que a nossa relação se desgaste...
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Ok, o da cerveja foi melhor ^^

domingo, 19 de julho de 2009

???????? (nameless, nonsense mode: on)

O gosto amargo do cigarro. Não, ele nem percebeu.
O calor da brasa. Não, nem fez diferença.
Amargos mesmo estavam sua garganta e o peito.
Quentes mesmo estavam seus olhos marejados.
A fumaça faz a companhia que ele quer: ele desenha, imagina na fumaça o que quiser. Quando tenta alcançá-la, tocá-la, ela se desfaz. Pensa em voz alta: "Caçador de sonhos". E sua rede não consegue pegar as borboletas no aquário, nem o peixe fora d´água.
Sim, ele sentiu. Sempre achou que os golpes seriam mais leves. Não conseguiu calejar o peito o suficiente. Deveria ter treinado mais? Acha que não. Já treinou o suficiente, talvez seja assim, o calcanhar de Aquiles, é onde sente o golpe com mais força mesmo.
Talvez não tenha solução, no final das contas, talvez deva ser sempre assim.
Pensa em quanta coisa sem sentido passa pela cabeça. E ele nem está fumando erva.
Apaga o cigarro. A fumaça some. As borboletas ficam. O peixe morre.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

One Thousand cigarretes III

E por um momento ele parou.O tempo parou. Nem percebeu a brasa que caminhava lentamente, devorando o filtro, alcançando seus dedos, iluminado sua pele.
A pouca luz do ambiente atrapalhava a visão que gostaria de ter dela, mas mesmo assim, focava, apertava os olhos para vê-la. A música alta se fundia com vozes e gargalhadas, se entrelaçavam histericamente, entravam em seus ouvidos deixando um desagradável zunido, mas mesmo assim, tentava se concentrar para ouvir a voz dela.
Olhos de mistério. Interrogando-o, a charada da esfinge, bem diante dele. E ele tentava encontrar a resposta: procurou em sua mente, não a achou; em sua alma, nenhum vestígio; em seu coração, apenas palpites. Abdicou da resposta, deixou ser devorado.
Impelido pelo incômodo calor da brasa, que a esta altura já lambia com sua língua flamejante a ponta de seus dedos, soltou o resto do cigarro. A dor da queimadura foi ignorada pela perplexidade da charada da esfinge:
"Me empresta o isqueiro?"
A resposta não vinha. Os comandos enviados do cérebro para a sua língua e boca se perdiam em algum lugar entre o tempo e o espaço.
"O isqueiro... me empresta?"
...
...
...
Silêncio. O silêncio do coma.
Apalpou o isqueiro no bolso, entregou para a inquiridora. Ela acende o cigarro. Calmamente ela se vira, e caminhando, desaparece entre a floresta de pessoas.
Pensativo, ele solta o resultado da torrente de pensamentos que era produzida em sua cabeça: "Filha da puta, levou meu isqueiro." E procura outra charada para resolver.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Superstar! (que título... hum... estranho...)

Algumas vezes, quase sempre, quase sem querer... achamos que o filme da nossa vida é apenas um filme B: baixo orçamento, atores de qualidade questionável, com roteiro escrito a três mãos por mexicanos - nada contra os mexicanos..
Onde estão os holofotes no grandioso momento? Onde está o vento a balançar os cabelos da bela donzela? Onde está a música de fundo para dar o clima? Onde está a lua para iluminar a noite encantada? Orçamento baixo dá nisso...
Mas pensa assim: na melodia caótica dos carros correndo pela avenida, na sinfonia confusa do ônibus, no farfalhar das asas das pombas que sobrevoam sua cabeça, no frio cortante do posto de gasolina - enquanto tu esperas pelo momento do acaso, aquele, que nunca vem - você faz seu filme, com o orçamento de que dispõem... e olha, produção assim costuma ganhar Cannes, viu?
Quem precisa de holofotes, quando o grandioso momento se ilumina pela piada digna do melhor filme de humor inglês? Quem precisa de música de fundo, quando o silêncio sepulcral sela os lábios dela, mas mantém os olhos vivos, ávidos, pela sua companhia? E quem precisa de boa direção? O talento se mostra no improviso, cara!
E vai lá, se parar para pensar, nosso filme até que é bacana... já tem 20 e poucos anos que estou assistindo o meu, e, até agora, não entendi a trama da parada... e mesmo assim não me cansei de assistir... e olha que o protagonista não é do tipo galã, nem do tipo sedutor... ele é uma figura mirrada, de ombros caídos... quase um anti-herói, mas pelo menos gosto do senso de humor dele...
Fez sentido para você? Não, não a parte de eu não ser galã...
O que eu quero dizer é que, se, nesse momento, você que lê isso - não que muitas pessoas o façam - ficou com uma puta vontade de ouvir "Eyes of the tiger", ou se você não tiver preconceitos, "I will survive"... ou vai lá, se você for daqueles meio cult/meio de esquerda, pode ser alguma coisa tipo Bjork...talvez o filme da sua vida esteja com uma crítica boa do público... Acho que estou lendo muito livro de auto-ajuda.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

"The apple, the phoenix, the sun and the little warrior princess"

O sol brilhou no céu do reino do amanhã. Forte e radiante, ruivo como a fênix, vermelho como uma maçã madura, que despenca da árvore e se entrega sem hesitação ao chão.
O sol brilhou, e lambeu a nossa pele fria, secou as lágrimas dos olhos que ardem, fez suar os corpos mitigados pelo cansaço, queimou as expectativas de ruína.
O sol gritou alto no firmamento, e se fez ouvir. Olhando para cima, acreditei.
Acreditei que as nuvens não te seguiriam até sua casa. Acreditei que a lua só se mostraria para garantir o seu sono, e que te acompanhando até seu leito, diria em voz mansa: "o sol voltará amanhã".
E o sol irá brilhar, ruivo e imponente como a fênix. Com a esperança dos que abrem o peito para o desafio de acreditar e amar. Com a doçura da fruta que cai da árvore e se entrega às bocas famintas.
Acreditei, e ainda acredito. O sol há de brilhar para o mundo amanhã.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

De vez em quando...

E de vez em quando, ele se sente assim.
Aquele desejo de arcar sobre suas costas fracas, a dor das pessoas queridas. Engolir todas as lágrimas derramadas, para secar os olhos daqueles com quem se importa.
E de vez em quando, ele se sente assim.
Com o inquietante sentimento de não suportar ver quem não merece a dor, recebê-la. E ele aceitaria de bom grado as farpas destinadas aos párias, somente para que pudesse ter certeza de que receberiam conforto, para ter certeza que elas teriam o ouro dos tolos, a felicidade, aquelas pessoas que ele carrega em seu peito fechado.
E de vez em quando, ele faz suas preces... esperando que sejam atendidas, não pelo seu merecimento, mas pelo merecimento deles, não para sua dádiva, mas para a dádiva deles, os que importam para ele...
E de vez em quando ele se sente assim... impotente, por não poder amparar com o seu ombro vacilante, aqueles que precisam de apoio...
E de vez em sempre, ele se sente assim... desejando o mundo para aqueles que merecem...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Bad, bad dog (nonsense mode:on)

E fez-se o silêncio.
Ainda escutou um último choro do pobre cachorro, mas resistiu. Não desamarrou a boca dele. E assim ela ficaria, amarrada. Confiou ao velho do tempo a guarda do animal. Os olhos tristonhos do bicho, quase o convencem a voltar atrás. Mas opta pelo silêncio.
Silêncio irritante, quase insuportável, mas necessário: não queria o cachorro brandindo e babando sobre os outros, não o queria ferindo as pessoas, não o queria ferido. Suporta a falta do animal urrando em seu peito, vociferando e faminto, pela expectativa de um dia poder deixá-lo ver o sol. E talvez ele o veja: brilhando em vermelho, radiante.
Em silêncio, ele tenta dizer o indizível, explicar o inexplicável, tenta decifrar o enigma dos olhos da esfinge: o silêncio é a forma de dizer que se importa.
E de todas as palavras que ele poderia um dia ter dito, nenhuma terá mais sinceridade e altruísmo que o silêncio de seu cão, guardado pelo velho do tempo...
E fez-se o silêncio...