quinta-feira, 16 de julho de 2009

One Thousand cigarretes III

E por um momento ele parou.O tempo parou. Nem percebeu a brasa que caminhava lentamente, devorando o filtro, alcançando seus dedos, iluminado sua pele.
A pouca luz do ambiente atrapalhava a visão que gostaria de ter dela, mas mesmo assim, focava, apertava os olhos para vê-la. A música alta se fundia com vozes e gargalhadas, se entrelaçavam histericamente, entravam em seus ouvidos deixando um desagradável zunido, mas mesmo assim, tentava se concentrar para ouvir a voz dela.
Olhos de mistério. Interrogando-o, a charada da esfinge, bem diante dele. E ele tentava encontrar a resposta: procurou em sua mente, não a achou; em sua alma, nenhum vestígio; em seu coração, apenas palpites. Abdicou da resposta, deixou ser devorado.
Impelido pelo incômodo calor da brasa, que a esta altura já lambia com sua língua flamejante a ponta de seus dedos, soltou o resto do cigarro. A dor da queimadura foi ignorada pela perplexidade da charada da esfinge:
"Me empresta o isqueiro?"
A resposta não vinha. Os comandos enviados do cérebro para a sua língua e boca se perdiam em algum lugar entre o tempo e o espaço.
"O isqueiro... me empresta?"
...
...
...
Silêncio. O silêncio do coma.
Apalpou o isqueiro no bolso, entregou para a inquiridora. Ela acende o cigarro. Calmamente ela se vira, e caminhando, desaparece entre a floresta de pessoas.
Pensativo, ele solta o resultado da torrente de pensamentos que era produzida em sua cabeça: "Filha da puta, levou meu isqueiro." E procura outra charada para resolver.

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