A ceia está posta, mesa enfeitada, bonita. Ceia quente, ao contrário da família fria. O fim de ano força essas aproximações. Força promessas. Força esperanças. O natal é bom para se bater fotos bonitas. Para renovar o guarda roupa. Para sentir aquele abraço quente que não se sentiu o ano todo.
No natal, o menino Deus nasceu.
Do outro lado da cidade a ceia é mais simples. Talvez haja mais amor, talvez não. Talvez haja mais esperança, pois é a única coisa que não se paga no natal. Isso sempre se tem aos borbotões. No natal, quase sempre, o menino Deus nasce.
Automático. É assim que o natal fica. Dá-se isso, recebe-se aquilo. Comemos a cesta de natal que a empresa deu. Estouramos o frisante agora, ou guardamos para o ano novo? Abraços. Felicidades. Esperança.
A manjedoura fica em um beco frio e úmido. O menino Deus chora. Os animais do presépio são ratos, cachorros vadios, gatos imundos. Os três reis magos, não são reis, não são magos. São magros: magros de vício, magros de fome. Trazem de presente o olhar triste de quem sabe o que é sofrer. O medo de um futuro pior. A promessa de uma infância sofrida.
No natal, de vez em quando, nasce outro menino.
Em algum lugar, uma criança se deita com a cabeça pesada, com olhos quentes, com a meia vazia, sem presentes. Ela se deita e faz um pedido singelo, mas sincero "papai do céu, só me acorde quando dezembro acabar...".
Não digo que odeio o natal. Eu até gosto. Gosto de ter esperanças, de fazer planos, de sonhar. Mas fico triste em saber que nem todo mundo pode fazer isso.
Mas rezo e torço, para que tenham esperanças, sempre. Mesmo aqueles que não podem se dar ao luxo de ter qualquer coisa.
By the way, Feliz natal...