sexta-feira, 18 de setembro de 2009

One thousand cigarretes?

É quase um ritual.
Sentado observo as bolhas da coca no copo subirem para não se sabe onde. Pego o último cigarro do maço. Observo ele. Estalo o isqueiro três vezes.
Prendo o cigarro nos dentes, uma música que gosto começa a tocar. Acendo o derradeiro.
Sentado na sala, trago pacientemente o cigarro. A brasa brilha, caminha em direção ao filtro, a fumaça dança e desaparece no ar...
Olho o maço: a bolinha vermelha que me acompanhou durante anos, companheira na felicidade, na ansiedade... ele me olha com uma cara tão triste...
Mas você sabia que isso ia terminar um dia, não me olhe assim.
Vai ser o último beijo, acabou.
Sei que sempre tive uma queda por você, sempre tive recaídas, mas você sabe como estou agora, sabe que estou decidido a terminar isso.
Não fumo inteiro, o derradeiro, não apago ele no cinzeiro. Isso não é forma de terminar um relacionamento.
Tomo um gole de coca e espero. Observo ele apagar sozinho no cinzeiro: a brasa devorando a si mesma, se consumindo, morrendo...
E esse foi o último beijo. Acabou.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

plano é foda...

- Desce mais uma!
- Mas a gente não ia tomar só uma?
- Uma pra cada!
- Ah, entendi.
- E isso nos faz pensar no quanto essa vida é frágil, né? Tipo, duma hora pra outra já era.
- É...
- Isso é bacon ou toucinho?
- É só gordura mesmo.
- Ah, entendi.
- E fazer planos pra quê, né? No final tudo desanda...
- O pior é que não ta no final ainda... ainda pode piorar...
- Pois é... saideira?
- Pode ser.
- Mais uma, por favor!
- Fazemos planos, tentamos imaginar o que vai acontecer, "vou viajar pra tal lugar, vou comprar tal coisa, quando der vou fazer isso"... e daí acontece merda...
- Plano é só uma lista de coisas que a gente organiza para não acontecer...
- Essa porção era de quê mesmo?
- Bife acebolado com bacon.
- Hum... cadê a cebola?
- O toucinho comeu.
- Desce mais uma!
- Mas não era a saideira?
- Uma saideira pra cada um, porra!
- Ah, entendi...
- E no final é só surpresa essa vida mesmo, né? A gente pede uma porção de bife acebolado com bacon, e... vem uma de toucinho com carne...
- Pois é...
- E olha só, trouxeram Conti ao invés de Brahma...
- Só surpresa essa vida...
- Só surpresa mesmo...
- Desce mais uma!
- Saideira pra quem essa?

sábado, 12 de setembro de 2009

King for a day, fool for a lifetime

Não havia mais nada a ser dito. As meias palavras já haviam cantado a canção que eles queriam ouvir.
Não havia mais nada a ser visto. Os olhares tímidos já haviam vislumbrado a situação, inúmeras vezes.
Não havia mais nada a se esperar. Bastava assumir a conquista.
E não havia nada além do silêncio: o barulho do mundo não penetrava, os olhares do mundo não espiavam, ah, a completa ignorância! Esperava-se apenas por si mesmos.
O sol despiu o céu do seu manto de noite, pediu amorosamente para que a lua se deitasse. O céu se vestiu de azul claro, e foi assim que o grande astro soltou seus cabelos de fogo, deixando eles balançarem em labaredas.
Sei que você tem um mundo imaginário, e nele você é rei. Nele você é o carrasco justo, que pune com severidade e honra aqueles que assim merecem. Sei que deixa viver em paz e calmaria aqueles que assim você deseja. E nele você é o mestre das palavras, das respostas, nesse mundo você conquista o que é seu por direito, com lógica e paixão, conciliando termos que nunca, em nosso mundo real, se uniriam.
Conheço meu mundo imaginário. Conheço as vozes na minha cabeça, e elas me dizem para acreditar. Mas as vozes me dizem isso em silêncio.
Quando dorme, é a calmaria depois da tempestade, os olhos cerrados abrem o sorriso escondido. Nenhum som, nenhum soluço escapa: apenas a contemplação paciente, esperando os olhos se abrirem em cores impensáveis.
...
Guardo em mim o silêncio da manhã quente...