segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Aos 26

Depois dos 18, por uma série de acontecimentos, todo aniversário meu foi uma data na qual eu pensava: "porra, eu tô ficando velho, e não consegui nada nestes anos". Era tipo o ano novo, mas bem pior, pq no ano novo eu costumo fazer a retrospectiva de apenas um ano, e no meu aniversário acabava sendo da vida inteira...
E porra, são 26. Já tô além da metade, não são "20 e poucos anos" são "quase 30" agora.
Piadas idiotas à parte, é estranho. Sim, me sinto velho. Me sinto um pouco fracassado. Sou um universitário de 26 anos, trampando em um trabalho que muitos acham que é de moleque. Triste? Até poderia ser.
Maos 26 anos eu entendi. Não é a meta, é o caminho. Não é a reposta, são as perguntas que você faz para tentar descobri-la. Não é a verdade, é o desejo justo e despretencioso de tentar alcançá-la. Não faz sentido?
Em meus 26 anos conquistei pouco. Será? O que fiz pela minha família, o que fiz por mim e por outras pessoas próximas, as amizades que cultivei, cada sorriso e cada lágrima apaixonada, cada risada insana, cada sonho abandonado, cada um realizado, tudo isso preencheu meus 26 anos.
E no final eu entendo. Não é o que eu tenho nestes 26 anos, é o que eu já fiz. E já fiz bastante coisa. No geral, acho que mais coisas boas do que ruins, e isso é legal. O melhor, é que ainda não chegou no final, ou seja, ainda tenho muito a percorrer...
Nas palavras de uma amiga, e talvez poucos entendam essa piada, "tudo é um processo, estamos no caminho..."
E minha vida nem é tão chata assim. Trabalho com pessoas que gosto. Tenho bons amigos. Tenho um gato de 7 kilos. Tenho bons patrões. Tenho uma família estranha, mas perfeita. Tenho uma pinta (?) verde nas costas. Vivo um amor muito foda.
E é isso. Eu entendi isso aos 26.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Eu não vou ganhar um especial de natal

O barulho das chaves e das moedas tilintando em seu bolso, o som que vazava dos fones, os passos nervosos, rápidos, pesados, esse era o som que o acompanhava. De resto, caminhava em silêncio.
"Parece estar em outro mundo", diziam. De fato, estava em outro mundo. Ignorava o mundo à sua volta, mergulhado na indolência e arrogância características da sua personalidade. O mundo era só ele e o caminho.
O caminho, uma avenida pouco iluminada com pessoas que se movimentavam parecendo recortes de jornais, ignoradas em sua história, coadjuvantes que não ganhariam um especial de natal na programação de final de ano. Afinal de contas, ao menos para ele, nenhum deles era carismático o suficiente para tal evento.
O vento, assim como os transeuntes, iam contra ele, só ele ia em direção ao seu destino, ninguém, nenhuma folha, nenhuma brisa o acompanharia, apenas ele, suas moedas e suas chaves.
Um esbarrão, um incidente, o força a romper o silêncio, a balbuciar um "desculpa". A moça o olha com cara de ódio. Sua cara fechada e o esbarrão, haviam ofendido ela, aparentemente.
Tentou ignorar e continuar seu caminho. Mas um vazio terrível, um remorso infantil mordiscou sua nuca. Parado, sentiu o vento lambendo seu rosto, dançando em sua volta e gozando dele, sentiu os olhares dos passageiros insólitos queimando suas costas... enfim entendeu: não ignorava o mundo. E a verdade recíproca que surgia da conclusão o incomodava ainda mais: o mundo não o ignorava.
Fez sentido o fato de pensar que nunca estamos sozinhos, de que nunca erramos ou acertamos sozinhos, de que nunca somos ignorados como queremos ou como achamos. A responsabilidade por tudo, pesou em seus ombros, e seus passos se afundaram no chão de concreto irregular. Sentiu vergonha, pensou em voltar, em se retratar, talvez se humilhar para provar seu arrependimento. Mas o vento mudou de direção e o empurrou em diante, a caminho do seu caminho.
As chaves e as moedas tilintavam em seu bolso, como a responsabilidade por tudo. E esse barulho nunca o deixaria esquecer.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

pseudopoetaressentido versão 2.6

É verdade. Fiquei com inveja porque tem um poema que fala sobre você, e não fui eu quem escreveu. Mas você sabe, eu nunca escreveria um poema, sou péssimo com rimas. Acho inclusive que minhas palavras são rasas e brutas, sem sonoridade, como as lagoas secas e sem vida da terra dos seus antepassados.
Não que me falte sentimento. Longe disso, talvez até sobre. Ele transborda, muitas vezes acho que sufoca, e de tão doce, amarga a garganta como fel. Mas deixa aquele sabor persistente, que fica, desejo de que o tempo não se esgote, saudade do que ainda não foi.
Mas o assunto é esse? Não, o assunto é a inveja.
E eu invejo a poetisa que escreveu sobre ti. E invejo os poetas que manejam as palavras, que as fazem cantar. Aqueles que fazem dos versos, a forma derradeira do sentimento, que moldam neles, o sentido que procuramos embaixo de cada pedra no nosso caminho, em cada canto que rola a poeira.
E a inveja me consome, me corrói, porque gostaria de ter ido além das palavras que já escrevi, para além de tudo, para perto do que você é.
E se um poema for dizer algo sobre mim, acho que deveria começar com "Pretensioso, arrogante e brega".
E se algum poema for dizer algo sobre nós, ele deveria começar com silêncio.
E sobre você, não há nada mais a ser escrito. Tudo o que eu preciso ler está escondido nas entrelinhas dos seus olhos de cores indecifráveis.