Ontem fiz uma fogueira para lá de simbólica.
Empacotei minhas coisas, mudança. Sou péssimo com isso. Odeio mudar. Qualquer coisa, mudar de casa, de emprego, de roupa, de cabelo, de humor. Odeio mudar. Gosto de padrões, gosto de rotina. Por quê? Porque é previsível, oras.
Ignorando meu lado esquizofrênico, as pessoas que me conhecem sabem que eu sou, voltemos ao papo da fogueira.
Empacotei muita coisa. Sobraram muitas coisas. Papéis da faculdade, trabalhos, textos, contas da outra casa, papéis que, se eu precisasse procurar, nunca os encontraria. Queimei-os. Me desculpem os defensores da camada de ozônio.
Enquanto o fogo crescia, devorando letras, entortando folhas de papel, observei com certo contentamento o evento. Me sentia bem por destruir coisas de um passado que... bem... passou, oras bolas.
E não me senti mal por isso... com exceção da camada de ozônio, isso não foi legal. Me senti bem porque o passado está aqui, minhas desventuras na faculdade, minhas dificuldades financeiras e emocionais vividas na outra casa, meus anos passados aqui em Marília, tudo isso está aqui, no peito e na cabeça. Mas elas precisam estar só aqui, e em nenhum outro lugar.
Abandono Marília, após tantos anos, tantas risadas, após tantos amigos, tantos inimigos, jogatinas, bebedeiras, brigas, conciliações, noites insones, dias preguiçosos, almoços de domingo, aniversários, achados e perdidos.
Abandono Marília. E a levo no meu peito.
Sentirei falta de você, cidade com cheiro de biscoito. Mas te carrego no peito. E as folhas que queimaram levaram só o meu medo de ir. A fumaça branca que subiu, as cinzas que dançaram ao vento, me espalharam por todo lugar. Agora sei que todo lugar pode ser minha casa.
Até mais Marília de Dirceu. A gente se vê por aí!