Uma chuva mais barulhenta do que refrescante caiu esta noite. No telhado de zinco gotas explodiam querendo ser notadas. Todos queriam ser notados, de uma forma ou de outra.
Cada aparelho de celular tocava uma música diferente, se entrelaçando com a canção caótica da chuva, se perdendo em línguas e dialetos conhecidos por poucos, talvez por ninguém. Talvez houvesse comunicação, talvez empatia, talvez amizade, mas certamente solidão.
E de cada boca jorravam palavras que até formavam frases, certamente lógicas, mas que nunca tocariam o sentido que gostariam de representar: as palavras morriam no desespero de sobreviver, de respirar... morriam antes de serem entendidas.
Cada qual tentou se fazer entender. Cada qual tentou se entender. Até a chuva parou para tentar ouvir e entender. Cansou e voltou a chover.
E em meio à torrente incompreensível de enigmas e frustrações nasce confiança. E é irônico. Porque a confiança não precisa de língua alguma para se fazer entender.
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