sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sete vezes vingado

Curvou-se diante dos fatos. O velho tinha razão. Não realizara nada de útil em todos os seus miseráveis anos de vida. Fitou os olhos do juiz mais uma vez antes de olhar para o chão e ver sua sombra se alongar até os pés do ancião. Seus olhos fundos cravados no rosto magro surrado pelo tempo lançavam sobre ele um olhar misto de pena e repreensão.

Tentou apoiar-se sobre os joelhos, mas eles fraquejaram. Sua vontade lutava contra o corpo arcado, implorando por clemência. Não conseguiria se levantar. Tal como Atlas, seu mundo de erros pesava demais sobre os ombros. Não conseguiria se livrar das amarras, assim como Prometeu seria devorado diariamente pela culpa.

Cravando sua mão sobre a terra molhada pelas lágrimas, reúne forças para tentar se levantar mais uma vez. Com dificuldade se mantém em pé: uma força descomunal o puxa para baixo. Orgulhoso ostenta um sorriso malicioso de satisfação e desespero.

O ancião o olha com mais desprezo.

- Haverá de cair muito mais. Sete vezes te derrubarão.

- Então sete vezes me levantarei e sete vezes me vingarei daqueles que me derrubam.

- Que assim seja. E sete vezes se vingará de ti mesmo.

E suas pernas fraquejaram novamente.

Queda número 1.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

It´s real

A chuva caía pesada. Uma cortina branca que lavava o suor. Já estava sem fôlego, cansado de correr. Deixava se molhar, sem medo, sem culpa.
A roupa molhada pesava sobre ele. Ou era cansaço? Não saberia dizer. Os seus passos explodiam nas poças de água, mas não faziam barulho: o barulho das gotas nos telhados de zinco dos barracões eram a única coisa que se ouvia.
Olhava para frente mas não via nada. Apenas a chuva mudando de direção conforme o vento. Seria fácil se perder de tudo, de todos, ir para lugar nenhum, para qualquer sonho. Mas as coisas terrenas o prendiam ao mundo real: família, namorada, emprego.
Gostaria de deixar tudo ir embora, nunca olhar para trás. Mas as memórias certamente o acolheriam, trazendo um berço de possibilidades não vividas. Parece ser fácil deixar ir, mas a cada passo pesado os grilhões o agarravam para baixo. Não conseguiria dar as costas. Seu remorso não seria ignorado.
Chega no portão de casa, o cachorro late. Tira o tênis molhado. Toma um banho quente. Sonha.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

??

Tenho escrito pouco não porque me faltam palavras. Na verdade eu tenho muitas delas. Mas tenho gasto elas tentando me confortar e compreender a injustiça que julgo estar sendo cometida contra mim. Besteira.
Não há injustiça no mundo. Não existem mártires, não existem heróis.
Besteira.