quarta-feira, 12 de setembro de 2012

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   Dizem que já faz 2 meses que não chove. Eu até acredito, embora não tenha me cutucado a curiosidade de procurar o dia em que caiu a última gota de água no chão dessa cidade. O fato é que o ar está seco, muito seco. A verdade é que está quente, infernalmente quente.
   O culto da igreja na frente de casa é bem regular, 3 vezes ao dia de segunda a segunda. Acredito que a ordem mais comum dos pastores é "queima!", ao menos é o que eu mais ouço. Hoje algo queimou.
   Acho que os bombeiros daqui da cidade há tempos não tinham uma situação como esta: um galpão de uma beneficiadora de algodão pegou fogo. O caminhão desceu a avenida como um raio vermelho, luzes piscando em uma árvore de natal. Parece natal mesmo, as portas das casas se abriram, donas de casa com suas roupas confortáveis fitavam o comboio, como se fosse o da coca-cola. Crianças na janela procuravam papai noel no céu de fumaça. Nos bares, todos olhavam para o firmamento escuro, copo de cerveja na mão, um gole seco para apagar o fogo na alma.
   Não sei o que deveria sentir com tudo isso. Certamente prejuízos materiais ocorreram. Talvez pessoas tenham se machucado, não sei. Mas não consigo ter curiosidade em saber o que está ocorrendo, ou especular com as pessoas nas calçadas. A única coisa que consegui pensar era no céu escuro, sem estrelas, mas que não chorará nenhuma gota. Indiferente, o céu contemplará as luzes piscando, o povo correndo e o fogo ardendo, miseravelmente indiferente.
 





Um comentário:

Anônimo disse...

Wow!
Massa, massa, muito massa o texto!
Uma crônica perfeita, me senti por alguns segundos em Rancharia-SP, observando a movimentação, ou não... Rs