O homem é un animal fraco. Dos animais que já se arrastaram sobre esse mundo, o mais fraco. Todos os animais sabem o que vão ser assim que nascem. Uma coruja nasce e morre coruja, ela sabe ser coruja. Um lobo nasce e morre lobo, sua mãe não precisa perguntar “e aí, que que vc vai ser quando crescer, lobo ou cordeiro?”. Não, nem precisa. Ele é lobo. Talvez o ornitorrinco passe por crises, mas o ornitorrinco você sabe como é, né?
O homem tem que aprender a ser homem. Tem que estudar para aprender isso. Tem que viver para aprender a ser homem. Tem que sentir, sofrer, chorar. O cachorro não.
É difícil largar um hábito. Ele fica impregnado nas suas ações, no seu “gene”, você não tem o controle sobre a situação. Em fato, você não deixa um hábito, o hábito deixa você.
Estou tentando parar de fumar. É foda.
O homem é um animal fraco. E por isso ele precisa se adaptar para sobreviver. Faz isso melhor do que qualquer animal. Por isso ele é forte? Não sei. Acho isso a representação maior da sua fraqueza. O homem se adapta e adapta o ambiente. Ele modifica a si e o mundo à sua volta. O quê? Isso é força? Não sei. Dá uma olhada por aí, e me diz.
Aqui no Japão acho que pelo menos 60% da população maior de idade fuma. Tá, essa estatística é meio furada, acabei de inventar. Posso dizer que das duas fábricas que trabalhei aqui, pelo menos 60% das pessoas fumavam. É um jeito de sobreviver à correria, ao stress. É uma forma de se adaptar para não morrer.
Mas ele é fraco. Os outros animais precisam de milhares ou milhões de anos para terem algo de “novo” inserido no seu código genético, para assim, transmitir aos seus descendentes. Uma adaptação do homem logo se torna hábito. E hábito meu amigo, é foda de largar.
Quando se vive em um ambiente competitivo, o homem se torna competitivo. O homem se adapta. Competir com alguém fraco é mais fácil do que com alguém forte, isso é óbvio. Então o homem enfraquece o adversário. É um meio de sobreviver.
Para enfraquecer as pessoas à sua volta, caso elas não sejam fracas de verdade, é preciso astúcia. Astúcia o homem tem. Mas isso não é força. Pode vir a ser, porque tudo tem, em si, múltiplas potencialidades. Ok, agora eu assumi, o homem pode ser “forte”.
Não é surpresa encontrar ambientes nos quais as pessoas aproveitam horas vagas para destoar verborragias venenosas sobre as não presentes. Verborragias venenosas soa muito pomposo. “Falar mal” é mais sincero e direto. Você já notou como isso se torna um hábito? E hábito meu velho, é foda largar. A prender a falar mal e ver o mal nas pessoas é uma forma de se adaptar. Quando se torna um hábito, você já está totalmente adaptado ao ambiente.
Sempre quando sinto cheiro da fumaça do cigarro eu tenho vontade de fumar. Confesso, não consegui parar ainda. Eu sou homem, eu sou fraco.
Prometi para mim mesmo parar de fumar. A caminhada é difícil, mas nem tanto. Dá para parar. Eu sei que dá. Prometi parar de macular as pessoas. Isso é foda de largar.
O kyukei é a pausa do cigarro. Muita fumaça, dá vontade de fumar. É a hora de falar mal das pessoas não presentes. Veneno. A peçonha do meu signo vem até a minha garganta, amortece minha língua, escorre pelo canto da boca. Tento engolir. Às vezes respinga uma gota, cai em alguém não presente. Eu sempre me arrependo de ter dito algo. Mas é força do hábito. E hábito você sabe, né?
Mas criei outro hábito. Quando o veneno do escorpião me vem até a língua, estanco o líquido amargo com um cigarro. É meu irmão, hábito é foda.
O homem é fraco. E é porque dentre todos os animais ele é o único que pode ter consciência de suas ações. É fraco porque escolhe o caminho dos fracos.
E antes que eu me esqueça: Jeitinho brasileiro é o caralho. Isso é jeitinho do homem mesmo. Não tem nacionalidade.
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