Ontem fiz uma fogueira para lá de simbólica.
Empacotei minhas coisas, mudança. Sou péssimo com isso. Odeio mudar. Qualquer coisa, mudar de casa, de emprego, de roupa, de cabelo, de humor. Odeio mudar. Gosto de padrões, gosto de rotina. Por quê? Porque é previsível, oras.
Ignorando meu lado esquizofrênico, as pessoas que me conhecem sabem que eu sou, voltemos ao papo da fogueira.
Empacotei muita coisa. Sobraram muitas coisas. Papéis da faculdade, trabalhos, textos, contas da outra casa, papéis que, se eu precisasse procurar, nunca os encontraria. Queimei-os. Me desculpem os defensores da camada de ozônio.
Enquanto o fogo crescia, devorando letras, entortando folhas de papel, observei com certo contentamento o evento. Me sentia bem por destruir coisas de um passado que... bem... passou, oras bolas.
E não me senti mal por isso... com exceção da camada de ozônio, isso não foi legal. Me senti bem porque o passado está aqui, minhas desventuras na faculdade, minhas dificuldades financeiras e emocionais vividas na outra casa, meus anos passados aqui em Marília, tudo isso está aqui, no peito e na cabeça. Mas elas precisam estar só aqui, e em nenhum outro lugar.
Abandono Marília, após tantos anos, tantas risadas, após tantos amigos, tantos inimigos, jogatinas, bebedeiras, brigas, conciliações, noites insones, dias preguiçosos, almoços de domingo, aniversários, achados e perdidos.
Abandono Marília. E a levo no meu peito.
Sentirei falta de você, cidade com cheiro de biscoito. Mas te carrego no peito. E as folhas que queimaram levaram só o meu medo de ir. A fumaça branca que subiu, as cinzas que dançaram ao vento, me espalharam por todo lugar. Agora sei que todo lugar pode ser minha casa.
Até mais Marília de Dirceu. A gente se vê por aí!
6 comentários:
Estas linhas me fizeram reviver sentimentos que, não faz muito tempo, se formaram em meu peito. Dizer um até mais a Marília me parece que pra ninguém é muito fácil. O cheiro de bolacha fica grudado na memória...
Boa sorte em seus novos passos, e que os ventos te leve para bons lugares! Pois as folhas, textos e provas, e tudo aquilo que foi queimado, já cumpriram seus papéis, e o seu ainda continua...
Já que a vida nos pede: Mudemos!
O "Adeus" à Terra da Bolacha.
Também não gosto de mudanças e sinto que elas perseguem as pessoas que delas desgostam...
Boa sorte, Billy! Como diria Caio Fernando Abreu: Que seja doce.
Me emocionei!
Um lado dizendo: se joga amigo! E o outro: puta que pariu o que será desse lugar sem os amigos que insistem em bater asas e voar?
E ah! a rotina só é "supostamente" previsível!
Talvez a melhor parte da rotina seja a possibilidade de quebrá-la, e sair do previsível...
Me lembro desse tempo aí, e de ter compartilhado, com você, um pouquinho do que você viveu em marília. Do que aprendi com você. Valeu Billy! Sinto saudades, para dizer bem a verdade, desse tempo com os amigos!
Engraçado ler o seu texto e o do Jefferson. Cada um mostrou um lado que eu tenho. Que todos temos, acho.
Realmente não é fácil mudar de ares, principalmente quando nossos ares têm o cheiro de biscoito. E não adianta esperar a hora certa, por acreditar que ela virá. Tem de ter a consciência de que não chegou até aqui pra desistir agora!
Temos que admitir quão benéficas as mudanças são. O que não muda é o que você deixou nas pessoas. E que no nosso grupo foi muito!
Vai ser triste ouvir "prazer em vê-los, até maaaaais".
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